GERA UM INCOMENSURÁVEL PREJUÍZO INDIRETO NA ECONOMIA, NA AUTOESTIMA DOS INDIVÍDUOS, ALÉM DE COLOCAR EM CHEQUE A EDUCAÇÃO. COMO CONTRAPONTO, FOMOS A HARVARD, MIT, PRINCETON E DUKE ONDE A EVASÃO PRATICAMENTE INEXISTE
Por Thais Gargantini
A educação já ocupa um lugar de destaque há séculos, mas na nossa sociedade moderna e tecnológica, potencializa-se como a solução de quase tudo, a nível individual, coletivo e social. Porém, paradoxalmente, a mesma educação salvadora está sub judice em seus bastidores, pois não consegue reter seus alunos, que a abandonam em números desconcertantes. A chamada evasão é o grande fantasma da educação, que aterroriza instituições de ensino (em especial universidades), pais, alunos, governos, em quase todo o mundo. Professor Roberto Leal Lobo e Silva Filho, ex-reitor da USP, acadêmico, escritor e especialista em consultoria para Instituições de Ensino Superior (IES), comenta
“A evasão é um dos maiores problemas do Ensino Superior, público ou privado. Representa uma perda social, de recursos e de tempo de todos os envolvidos, sendo motivos de críticas de especialistas e de estudiosos da Educação e da Economia. Nas IES públicas, a desistência dos alunos ao longo do curso é um dos assuntos que mais desperta preocupação devido à ociosidade e desperdício que representa para o sistema, que pode, inclusive, indicar deficiências de ordem acadêmica e de medida de efetividade do ensino”.
Este fenômeno nos faz questionar o sistema educacional em nível mundial. Entretanto, os estudos sobre a evasão na maioria dos países são poucos, imprecisos e fragmentados. Ainda assim, pode-se estimar que mundialmente o desperdício com a evasão escolar chega a alguns trilhões de dólares criando um incomensurável prejuízo indireto na economia e na autoestima dos indivíduos. Os milhões de alunos evadidos criam um círculo vicioso: abandonam a educação ou até a rejeitam, sentem-se perdedores, o mercado os desvaloriza, o conhecimento não é passado a frente, a economia e a sociedade perdem e, ao final, a civilização estanca uma boa parcela da sua evolução.
EVASÃO NO BRASIL: ATÉ 30% EM UNIVERSIDADES PÚBLICAS
Segundo os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), há no Brasil 11.174.282 vagas para alunos de graduação, sendo que quase 72% delas estão preenchidas (8.027.297 matriculados), 11,6% das matrículas estão trancadas e 15,5% dos alunos foram desvinculados do curso de graduação (abandonaram).
Somando o total de matrículas trancadas e os alunos que abandonaram o curso temos aproximadamente 27% de vagas inativas. Ao confrontar o número de matriculados com o número de alunos que abandonaram o curso, a porcentagem sobe para 21,6% e o número de trancamentos sobe para 16,1%. Chegando a quase 38%.
A porcentagem de desistentes varia também de acordo com o tipo de graduação. Nos cursos do setor privado, a desistência é, em média, 24%. Enquanto que no setor público as desistências giram em torno de 15%. Porém, cursos como os de engenharia, matemática, física, entre outros da área das exatas, costumam ter grande evasão por conta do desestímulo ligado às dificuldades do curso. Na Unicamp, por exemplo, a taxa de evasão, em 2012, era de 25%, bem maior do que a média dos 15%. Normalmente, os cursos com mais vagas de desistentes são os que têm menor procura durante o processo seletivo. “Nos cursos com baixa demanda, os índices de desistência chegam a 30%”, disse Maurício Klenke, docente da Unicamp e estudioso do tema. Nas universidades particulares estima-se que pode ultrapassar 70%. Estes números tornam-se ainda mais graves se levarmos em conta que são poucos brasileiros que ingressão no nível superior, apenas 17,6% dos jovens até 24 anos.
DESPERDÍCIO DE 17 BILHÕES ANUAIS NO BRASIL
A pesquisa do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia em 2016 revelou que 1.735.546 alunos cancelaram suas matrículas em 2016, gerando um prejuízo total das instituições de mais de 17 bilhões no ano, sendo 14,5 bilhões nas universidades particulares e 2,7 bilhões em universidades públicas.
EUA: MAIOR EVASÃO DOS PAÍSES INDUSTRIALIZADOS
Os EUA, maior centro universitário e de conhecimento do mundo, que detém mais da metade dos cientistas do planeta, surpreendentemente possui altíssimas taxas de evasão escolar.
Harvard analisou dados de uma pesquisa da Organization for Economic Cooperation and Development (OECD). De acordo com essa análise, os Estados Unidos são o país com o maior índice de evasão acadêmica dentre os países industrializados.
Em 2011, a Harvard Graduate School of Education realizou um estudo intitulado “Pathways to Prosperity” que revelou que apenas 56% dos estudantes completam os 6 anos do curso universitário, que lhes dá o bacharelado.
INÚMERAS CAUSAS
Um fator que aumenta o número de alunos que evadem o curso de graduação é a ausência de orientação vocacional durante o ensino médio. “O Brasil tem apenas 8% dos alunos do ensino médio em programas vocacionais. A falta de orientação contribui para que exista uma desistência significativa dos jovens que ingressam no nível superior”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho.
Para o Ministério da Educação (MEC), uma das principais medidas que podem minimizar a evasão estudantil durante a graduação é oferecer apoio aos estudantes, principalmente no início do curso. A desistência vai além da decepção com a carreira escolhida. A falta de condições, financeira ou acadêmica, para seguir na universidade leva os alunos a desistirem do ensino superior.
“As causas são múltiplas. O importante é não deixar que um aluno pare de estudar por falta de condições. Precisamos ampliar a assistência e também criar programas de monitoria, especialmente no primeiro ano, quando muitos têm dificuldades nas disciplinas básicas”
afirma o ex-presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa. Segundo um relatório de Harvard, observamos que as principais razões para abandonar a universidade são semelhantes às do Brasil. Muitas vezes o estudante não está preparado para lidar com as demandas de estudo, família e emprego, além do próprio custo da universidade.
POR QUE HARVARD, MIT, PRINCETON E DUKE SÃO EXCEÇÕES?
Fomos visitar algumas universidades norte-americanas que possuem baixas taxas de evasão. Selecionamos as universidades de Harvard, MIT, Princeton e Duke, todas com índice de evasão menor do que 3%, marca que nem o curso de medicina gratuito mais disputado do Brasil consegue atingir.
Fundada em 1746, Princeton possui vários professores com prêmios Nobel e segundo ranking da Center for World University Rankings (CWUR) está na 9ª posição do mundo e 7ª dos EUA. Estivemos também na Duke University, fundada em 1924 com ex-alunos que ganharam 12 prêmios Nobel e reconhecida na área de Inteligência Artificial, além das tradicionalíssimas MIT e Harvard.
Cada uma das quatro universidades, à sua maneira, trabalham intensamente as causas acima expostas da evasão: possuem programa intenso de apoio aos estudantes, em especial aos calouros, proporcionando-lhes integração, moradia, instalações de qualidade, alimentação saudável, transporte e lazer. Disponibilizam ainda financiamento a longo prazo e ou bolsas de estudo com premiações por desempenho. Possibilitam e exigem imersão e concentração total do aluno obrigando-os a morarem no campus pelo menos nos primeiros anos.
Além disso, seu grade curricular é extremamente flexível. Principalmente no primeiro ano, o estudante consegue escolher as matérias que mais se enquadram nas suas aptidões e demandas. Existem algumas restrições e regras a serem seguidas, mas predomina a livre escolha da grade curricular. Isso faz com que os alunos tenham grande motivação para estudar. Ao escolher suas matérias, ficam mais envolvidos com a disciplina, aplicam-se mais e conseguem atingir os níveis de exigência da universidade. E, claro, em todas o grande prestígio acadêmico é enaltecido, o que seduz e motiva seus alunos. Temos que refletir criticamente sobre tema, pois nossos filhos ou nós mesmos temos grande chance de sermos vitimados pela escolha errada da universidade que pode gerar mais que um prejuízo financeiro, uma frustração por toda a vida.